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domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Crucifixo do Haiti

Acabo de ver a imagem do Crucifixo da Igreja Sacre Coeur du Tugeau, no Haiti, exibida pelo Fantástico, programa da Rede Globo.

O templo sagrado desabou e restou aquele Crucifixo, quase intacto, grande, erguido, exposto aos olhares que banham de lágrimas as noites haitianas.

As pessoas param em frente a ele, choram e rezam.

Esta imagem provoca o ser pensante.

Por que foi assim?

Por que aquele Crucifixo resistiu ao equivalente a 30 bombas nucleares como a de Hiroshima?

E Cristo ficou ali.

Parece ser aquela Sexta-Feira Santa, em Jerusalém, no alto do Calvário.

Pus-me a pensar e contemplar a chocante cena.

Abri as Sagradas Escrituras e pus-me a ouvir o Senhor.

O Filho do Homem permaneceu naquele lugar, representado pela imagem, para dizer aos sofredores haitianos que eles não estão sozinhos. Jesus Cristo está crucificado com eles e eles com Cristo.

“Suas dores são minhas dores; suas lágrimas são minhas lágrimas; seu sangue é o meu sangue.

“Estou na cruz despido, como vocês que agora se encontram despidos de tantos bens.”

Como disse o Profeta Isaías:

“a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores” (Is 53,4).

Os braços do Filho de Deus permaneceram abertos em Porto Príncipe para acolher o clamor de homens e mulheres transpassadas pela lança da destruição, da fome, da sede, da perda de esperanças.

O lado aberto do Cordeiro de Deus ficou ali, às margens da rua destruída, para dar descanso e consolo aos que ainda gritam por socorro debaixo dos escombros de uma cidade cujo concreto tombou sobre vidas cheias de sonhos.

“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).

O Crucificado resistiu às forças cósmicas para dar refúgio e abrigo aos que vagueiam pelas ruas sem destino.

O Crucifixo do Haiti foi mais forte que o terremoto para manter viva na mente e coração dos que por aquela rua passarem a boa notícia: “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão” (Jo 15,13).

Ali ficou uma imagem sagrada feita de matéria, porém, ao seu lado, ficaram os corpos de homens e mulheres, que viveram até o fim o Mandamento Novo.

Eles foram imagens vivas do Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas.

Trata-se da Dra. Zilda Arns e quinze sacerdotes presentes naquela igreja no momento da tragédia.

Eles estavam juntos porque queriam amar intensamente as crianças daquela nação que esperavam por vida e vida em abundância.

O Crucifixo do Haiti permanece erguido e o Espírito de Deus fala aos corações das pessoas de bem que salvam aquela sofrida gente.

“Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim...

Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!”(Mt 25, 35-36.40).

O Crucificado ressuscitou e enviou do Pai o Espírito Santo renovando todas as coisas.

Ele ficou naquela destruída rua para dizer:

“Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Em meio ao caos da maior tragédia enfrentada pela ONU, há esperança, a luz dissipa as trevas em cada pessoa resgatada com vida, e em cada criança amparada.

E o brilho volta a resplandecer nos olhos que agora choram os mortos.

É a força criativa e reconstrutora do Amor estampada no Crucificado do Haiti.

Padre Francisco Agamenilton Damascena

Vice-reitor do Seminário Diocesano São José

Uruaçu - GO


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