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sexta-feira, 18 de junho de 2010

O amor e o perdão

O perdão de Deus, como o Seu amor, é gratuito
  
A Palavra de Deus nos convida para refletir - em Lucas, 7, 36-8,3 - sobre o perdão misericordioso de Nosso Senhor Jesus Cristo. O contexto da cena é um banquete. Jesus participa como convidado. Oferecem-Lhe os seus dons duas pessoas muito diversas: um fariseu e uma mulher de má fama.
O primeiro o convida para um almoço suntuoso. Seria exagerado acusá-lo de vontade má; talvez tenha convidado o Senhor porque sentia respeito por Ele. Todavia, no fundo de seu gesto, existe um sentido de crítica e de suspeita, e por isso ousa julgar-Lhe a conduta. Ele tem sua verdade feita, conhece a Deus e não tem necessidade de que alguém lhe ensine a nova profundidade do Reino e da vida.


A segunda não foi convidada, mas se apresenta espontaneamente. Sabe que Jesus oferece uma mensagem salvadora, conheceu a Sua virtude de homem que se dedica inteiramente aos outros e, portanto, vem oferecer ao Senhor simplesmente aquilo que tem: o perfume que usa no seu trabalho, as suas lágrimas e os seus beijos. Tomado em si, este gesto é ambivalente. O fariseu, fiel às suas normas de moralidade estreita, condena a mulher, qualifica o seu gesto de ligeireza e julga Jesus que se deixa tratar daquele modo. Cristo, em vez disso, interpretou a atitude da mulher como um ato do seu amor, como expressão de gratidão por ter sido compreendida e perdoada.


A visão de Jesus Cristo é compreendida melhor por meio de uma parábola: entre dois devedores insolvíveis, amará mais o Senhor aquele ao qual foi perdoado um débito maior. Aplicando a parábola precisa-se, de modo melhor, a atitude do fariseu e a da prostituta.


O fariseu Simão e a mulher pecadora encarnam duas atitudes diante de Deus, como o fariseu e o publicano de uma outra parábola representam dois tipos de religiosidade (cf. Lucas 18,10-14). Mas aqui os modelos são reais e interpretam ao vivo uma nova parábola de Jesus: a dos dois devedores insolventes e perdoados. Simão é o que deve cinquenta dinheiros e a mulher quinhentos. Depois que o débito de ambos é perdoado, é claro quem é mais grato pelo favor, isto é, quem ama mais: a mulher cujos gestos de afeto para Jesus, diferente da cortês reprovação do fariseu, demonstram somente amor e alegria pela experiência do perdão.


O amor que  nos demonstra quem nos perdoa, Isso é Deus, é o que regenera a pessoa. Por isso devemos começar por reconhecer a nossa situação do pecado. Encarnamos o fariseu Simão quando perdemos a consciência de ser pecadores, coisa que efetivamente estão perdendo o homem e a mulher de hoje. Não se trata de um sentimento doentio, mas realístico de culpabilidade. Julgar com dureza os outros sem pensar que também nós erramos e temos necessidade do perdão de Deus, como Davi pecador e a mulher pecadora, significa esquecer que diante do Todo-poderoso somos todos devedores insolventes.


O perdão de Deus, como o Seu amor, é gratuito: talvez por isso, por causa da nossa mentalidade mercantilística, não o avaliamos bastante. Jesus ensina hoje que não nos libertamos do pecado com nossas forças (é a atitude do fariseu), mas aceitando o perdão e o amor gratuitos de Deus (atitude da pecadora). Isso diz respeito ao Altíssimo; e em relação aos irmãos, quem não se sente pecador não pode colaborar para construir um mundo melhor,  porque é incapaz de começar de novo, mudando a si mesmo pessoalmente e aceitando depois os outros assim como são.


Em Cristo, Deus se colocou do lado do homem, pelo perdão e a reconciliação. O perdão de Deus Pai, por Sua disposição, se realiza, no sacramento da reconciliação ou penitência, através do qual a Igreja se reconcilia com Deus e recupera para a comunidade o membro pecador. Mas a reconciliação se faz já no momento em que no íntimo de nosso coração percebemos que ofendemos a Deus e ofendemos nosso próximo, e pedimos perdão na confiança de que o Senhor nos perdoa porque Ele mesmo tomou a iniciativa de oferecer-nos o perdão.


A grandeza do perdão que o Todo-poderoso fez e faz é provado pela grandeza do amor que esse perdão suscita. Lembremo-nos do caso de David, de Pedro, de Paulo, de Agostinho, para que confiemos na bondade de nosso Deus nosso Pai, como nos garante Seu Filho Jesus Cristo. 

Cardeal Geraldo Majella Agnelo

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