Pesquisar no blog

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Vocação dos Leigos e das Leigas


Um cristão dos primeiros tempos da Igreja, seja da época dos apóstolos e dos primeiros mártires, seja de alguns séculos depois, ter-se-ia admirado de que alguém pudesse duvidar do fato, para ele evidente, de que todos os cristãos são chamados a participar ativamente da missão da Igreja.

Séculos depois, na Idade Média, o leigo vira mero e silencioso ouvinte; torna-se o que não sabe o latim (idioma oficial da Igreja), o inculto, o analfabeto, que não tem aceso à Bíblia. A missão ficou nas mãos da hierarquia e, parcialmente, dos religiosos e religiosas consagradas. Assim nasceu e progrediu a distância entre hierarquia e laicato, entre clero e povo.

Neste período o que distingue os leigos dos demais fiéis é, em primeiro lugar, a chamada
"definição negativa", pela qual o termo leigo, pelo menos desde Tertuliano, adquiriu o sentido técnico de cristão "não pertencente ao clero", ou seja, leigo é quem não tem ordens sacras! Esse conceito bastante negativo tem raiz na clericalização da Igreja, quando, na verdade, os cristãos leigos e, de modo particular, as cristãs leigas encontravam-se totalmente excluídos da participação direta na vida e na ação da Igreja, limitando-se a apenas cumprir as ordens emanadas pela hierarquia.

A origem da palavra leigo

A palavra portuguesa leigo é proveniente do grego
laikós que provém da palavra laos cujo significado é massa, ou seja, multidão, agregado social, aglomeração de gente. A isto acrescenta-se uma conotação bastante pejorativa. No grego clássico, o sentido do termo não é somente multidão, de povo, mas insinua-se que esse povo não é qualificado, é inferior, por isso distinto de seus chefes. Essa visão bastante negativa é confirmada pelas traduções latinas ou pêlos sinónimos empregados para expressar o significado de laikós. Entre outras expressões encontramos: "idiota", "iletrado", "secular", "plebe".

Assim os próprios cristãos leigos e leigas foram se imaginando "idiotas", estranhos e, conseqüentemente, comportando-se como tais. Por causa disso, ainda hoje, a maioria deles vive nesse estilo e nessa condição dentro da Igreja. Diante dessa situação, a teologia da vocação, traduzida em prática pela Pastoral Vocacional, deve contribuir para a superação desse inconsciente coletivo que tanto mal tem feito à comunidade cristã.

Graças ao Concílio Vaticano II, essa compreensão foi superada com um grande esforço de todos para recuperar a originalidade perdida. Assim, na Constituição Dogmática sobre a Igreja "Luz dos povos"
(Lumen Gentium), antes de falar da hierarquia (cap. lll) e dos leigos (cap. IV), fala do povo de Deus (cap. II). É a Igreja na sua totalidade, naquilo que é comum a todos os membros. Ai o concílio superou a distância entre hierarquia e laicato, e a desigualdade tão perniciosa.

A noção de povo de Deus exprime a
profunda unidade, a comum dignidade e fundamental habilitação de todos os membros da Igreja à participação na vida da Igreja e à co-responsabilidade na missão. Assim, quando o concílio fala da "Atividade missionária da Igreja", diz:

"Como membros de Cristo vivo. a E/e incorporados e configurados pelo Ba tis mo e também pela Confirmação e a Eucaristia, obrigados se acham todos os fiéis ao dever de cooperar na expansão e dilatação de seu corpo, para o levarem quanto antes à plenitude. Convençam-se por isso vivamente todos os filhos da Igreja de sua responsabilidade para com o mundo. Empenhem-se com afinco na obra da evangelização"(AG 36).

O Concílio Vaticano II está interessado em descrever positivamente o leigo. Por isso, partindo da ênfase sobre o Batismo, vai afirmar a sua Incorporação a Cristo',' constituição no povo de Deus',' participação na tríplice função de Cristo e, conseqüentemente, sua participação na missão comum a todo o povo cristão. Estes elementos, porém, são comuns a todos os membros da Igreja. O leigo exerce a missão do povo cristão "na Igreja e no mundo". Em relação aos clérigos e aos religiosos, o leigo é o cristão que vive no mundo.

A descrição pode parecer equívoca, pois também o ministro ordenado e o religioso vivem no mundo. O que é, porém, diferente é o 'modo' de o leigo estar presente no mundo:

"Lá são chamados por Deus para que, exercendo seu próprio ofício guiados pelo espírito evangélico, a modo de fermento, contribuam para a santificação do mundo e assim manifestam Cristo aos outros".

O concílio exorta os cristãos a procurarem desempenhar fielmente suas tarefas terrestres, guiados pelo espírito do Evangelho.

Afastam-se da verdade os que, sabendo não termos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura, julgam, por conseguinte, poderem negligenciar os seus deveres terrestres, sem perceberem que estão mais obrigados a cumpri-los, por causa da própria fé, de acordo com a vocação à qual cada um foi chamado.

Assim os leigos devera buscar e promover o bem comum:

Na defesa da dignidade do homem e de seus inalienáveis direitos à vida, à segurança, ao trabalho,à moradia, à educação, à religião,à participação em associações livres,à posse da terra;

Na proteção dos mais fracos e necessitados: crianças, anciãos, marginalizadosjovens, desempregados, encarcerados, operários;

Na construção da paz, da liberdade, da justiça, "apresentar a fisionomia duma Igreja comprometida com a promoção da justiça em nossos povos" (Puebla 777); "sério compromisso com a promoção da justiça e do bem comum, agente de justiça" (Puebla 793).

Por isso o leigo cristão é "homem da Igreja no coração do mundo e homem do mundo no coração da Igreja" (Puebla 787).

Deve marcar, completar, transfigurares "valores "do mundo.
poder, cultura, eficiência, progresso, realização.

Através dos valores evangélicos testemunhados em sua vida e no seu agir: serviço, participação, valorização do homem, comunhão, promoção do outro, libertação dos pequenos e oprimidos.

A VOCAÇÃO DOS LEIGOS E LEIGAS


Como membro do povo de Deus, o leigo é chamado a ser fermento de santidade, testemunhando as riquezas de seu Batismo e Confirmação. Ele traz ao conjunto da Igreja a sua experiência de participação nos problemas, desafios e urgências do seu mundo secular, das pessoas, grupos sociais e povos.

"Consciente de sua realidade de batizado, deve participar na pastoral de conjunto, na sua planificação e execução"
(Puebla 807-808),

"Promovendo na Igreja estruturas de diálogo, de participação e ação pastoral de conjunto, expressão de maior consciência de pertença à Igreja" (Puebla 794-799).

Por isso assume trabalhos diversificados dentro da comunidade (ministérios).

ESPIRITUALIDADE DO CRISTÃO

A espiritualidade do seguimento é fundamental para a vivência cristã. O Espírito ensina-nos o verdadeiro seguimento de Jesus e suscita hoje uma espiritualidade mais integrada, em que todas as dimensões humanas são contempladas: a corporeidade, a afetividade, a emoção, a racionalidade, a criatividade e a sociabilidade.

Os discípulos de Emaús caminharam junto com Jesus, experimentaram sua presença, acolheram o sentido da cruz e regressaram à comunidade, animados e encorajados. Esse encontro com Jesus é experiência do mistério que nos circunda e envolve, que aquece os corações, que seduz as pessoas, proporcionando um sentido novo às nossas vidas. A paixão por Jesus nos leva a viver a compaixão, a solidariedade e a fazer da partilha fraterna nosso estilo de vida.

A espiritualidade não
é"uma parte da vida, mas a vida inteira guiada pelo Espírito" de Jesus. "Entre os elementos de espiritualidade que todo cristão deve assumir como próprios, destaca-se a oração.

A oração o levará, aos poucos, a ver a realidade com um olhar contemplativo, que lhe permitirá reconhecer a Deus em cada instante e em Todas as coisas; de contemplá-lo em cada pessoa; de procurar cumprir sua vontade nos acontecimentos".

A espiritualidade não afasta da vida cotidiana.

Especialmente leigos e leigas devem buscar a santidade dentro de suas próprias condições de /ida. É o que ensina o Concílio Vaticano II. Após ter afirmado com vigor a /ocação de todos os fiéis à santidade, a Constituição
Lumen Gentium propõe alguns itinerários espirituais não apenas a ministros e consagrados, mas também aos esposos e pais, aos trabalhadores, aos pobres, aos sofredores, aos perseguidos pela justiça, concluindo: "Todos os fiéis santificar-se-ão lia a dia, sempre mais, nas diversas condições da sua vida, nas suas ocupacões e circunstâncias, e precisamente através de todas essas coisas, desde que as recebam com fé das mãos do Pai celeste e cooperem com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo". (CNBB, Doe. n° 62; 176-180)

Textos para aprofundar o assunto:
- Lumen Gentium - Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II
- Doc 62 CNBB - missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas
- José Lisboa - Nossa resposta ao amor - Teologia das vocações específicas, Editora Loyola.

Texto bíblico para meditar:
-Mt5, 13-16
- Lc 10,1

(Fonte – Catequese Católica)

2 comentários:

  1. "Ardia nosso coração quando ele nos falava pelo caminho…"
    (cf. Lc 24,32).

    ResponderExcluir
  2. Olá irmã!
    Muito obrigado pelo comentário!
    Seja sempre muito bem-vinda ao blog.
    Deus lhe abençoe abundantemente!

    ResponderExcluir

Por favor, ao comentar não esqueça de deixar seu nome!