O anúncio cristão da morte e ressurreição de Jesus não deixa ninguém na indiferença. Diante dele, é preciso tomar claramente uma posição, pois qualquer neutralidade é destinada ao fracasso. Nos versículos finais do discurso de Paulo, encontramos várias reações. É importante, porém, eliminar logo um mal-entendido, que é fruto de uma leitura do texto de Lucas, feita através dos olhos de Paulo.
A partir da atividade de Paulo em Corinto (1Cor 2,1-5), depois que deixou Atenas, esta leitura leva a considerar o êxito da pregação de Paulo em Atenas como "um fracasso quase completo" (nota da Bíblia de Jerusalém), mas não é exatamente isso que está em jogo. Uma maior atenção ao texto de Lucas deixa perceber efetivamente que ele quer mostrar todas as possíveis reações diante do anúncio cristão. O fato de mencionar o nome de personagens ilustres, como Dionísio e Dâmaris, mostra, por si só, que a impressão do êxito negativo deve ser afastada. Realmente, a questão da "ressurreição dos mortos" (v. 32) provoca unicamente as três respostas possíveis: a primeira é a rejeição radical; a segunda é daqueles que não querem se comprometer; e, enfim, a última é a dos que acolhem e acreditam no anúncio evangélico.
Antes de tudo, temos a resposta dos filósofos epicuristas, cuja atitude de zombaria e de desprezo já estava presente desde o começo. Foram eles mesmos que desqualificaram Paulo, apelidando-o de "charlatão" (v.18). Dentro de uma pretensão totalitária do conhecimento humano (a idéia da "imortalidade"), para eles, o anúncio da "ressurreição dos mortos" não só é escandaloso e incompreensível, mas é algo que beira o ridículo e o absurdo! Dessa forma o conhecimento, em sentido absoluto, torna-se incapaz de ouvir os apelos da mensagem cristã, sobretudo no que diz respeito ao seu núcleo essencial que é a ressurreição.
Logo em seguida, aparece a resposta de um segundo grupo de intelectuais. Esses, filósofos estóicos, escolhem um caminho mais simpático para evitar o compromisso da conversão. Entretanto, eles também tinham feito um pré-julgamento de Paulo, considerando-o como "pregador de divindades estrangeiras" (v. 18). Divindade a mais, divindade a menos, esse fato não chega a alterar o conjunto do seu pensamento. Eles permanecem fechados numa atitude de indiferença religiosa, rejeitando assim de forma muito elegante o anúncio cristão. Tudo isso mostra que a busca das últimas novidades, tão característica do mundo intelectual de Atenas, deixa seus representantes oficiais impermeáveis ao anúncio cristão. Uma atitude de radical auto-suficiência ou de indiferença não consegue abrir-se à novidade absoluta da ressurreição. De fato, todo saber absolutizado gera uma atitude de indisponibilidade ao dom livre e gratuito da salvação que o próprio Deus oferece a todos (v.31). Naturalmente, diante dessas duas atitudes, Paulo não tem mais nada a dizer; por esse motivo "saiu do meio deles" (v.31), assumindo a mesma postura profética de Jesus, após o seu discurso messiânico, na sinagoga de Nazaré (Lc 4,30).
Enfim, existe um terceiro grupo que acolhe e acredita na pregação de Paulo. Nele, se destacam os nomes de um homem, Dionísio, e de uma mulher, Dâmaris, como se formassem uma espécie de assinatura para qualificar oficialmente a função de testemunhas. Mediante a fé desse último grupo, Lucas deixa bem claro que o Evangelho é sempre uma novidade absolutamente gratuita e, por isso mesmo, critica toda pretensão humana de possuir ou determinar o destino humano. A imortalidade é só uma idéia, mas, segundo o desígnio do Deus vivo, doador da vida definitiva no "homem (Jesus) ressuscitado dos mortos", a ressurreição é o destino de toda a humanidade.
Autor: Sergio Bradanini
www.pime.org.br
(Fonte – Catequese Católica – www.catequisar.com.br)
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