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sexta-feira, 9 de março de 2012

Mãe do meu Senhor

“Quando porém chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu filho nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5).

Esta passagem da Sagrada Escritura nos convida a refletir sobre o Mistério da Encarnação do Verbo de Deus, que para vir a este mundo escolheu a mediação de uma mulher.
Sim, Deus quis ter uma mãe como todos nós temos. Uma mãe??? Sim, uma mãe.

É interessante notarmos que a expressão “nascido de mulher”, utilizada por São Paulo, aparece várias vezes, tanto no Antigo (Jó 11,2.12) como no Novo Testamento (Mt 11,11), indicando a frágil condição humana, sua “baixeza” e aquilo que ela tem de impuro: “O homem, nascido de mulher, tem a vida curta e cheia de tormentos. É como a flor que se abre e logo murcha, foge como a sombra sem parar” (Jó 14,1-2).

No caso de Jesus, essa expressão deseja ressaltar o abaixamento, a humilhação a que se sujeitou o Filho de Deus ao assumir a natureza humana; é o que o mesmo apóstolo expressa ao escrever aos filipenses: “Ele [Jesus] tinha a condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas, esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana...” (Fl 2,6-7).

Entretanto, este mistério do próprio Deus que para se encarnar escolheu para si uma mãe humana, já foi motivo de discussões e desavenças no decorrer da história da Igreja. Como pode uma simples mulher ser Mãe de Deus? Como se pode dar o título de Mãe de Deus (Theotókos) a Maria, uma jovem mulher da Galiléia?

Para entendermos um pouco mais do alcance da afirmação de que Maria é verdadeiramente mãe de Deus, vamos retomar alguns fatos históricos que são de relevada importância.

Um pouco de história...

Os Concílios de Éfeso (325) e de Constantinopla (381) proclamaram a fé de todos os católicos nas duas naturezas (divina e humana) de Cristo Jesus, deixando claro que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas não expuseram de que forma estas duas naturezas estão unidas ou subsistem na pessoa de nosso único Senhor.

Isso deu margem a uma série de erros teológicos que surgiram nos séculos IV e V d.C., entre eles podemos citar: os Eutiquianos, que defendiam que a natureza de Cristo era uma natureza híbrida, uma mistura entre a natureza divina e a natureza humana, ou seja, a natureza de Cristo seria uma terceira natureza, distinta da natureza humana e da divina; os Valentinianos, que afirmavam que Jesus Cristo era verdadeiro homem, mas que negavam que seu corpo humano tivesse sido formado no ventre de Maria – Jesus, segundo eles, não teria recebido nada de Maria, pois seu corpo teria sido formado no céu e trazido à terra por intermédio de Maria, ou seja, Maria seria apenas a mãe de criação de Jesus e não sua mãe biológica; Arianos; Nestorianos...

Vale a pena falarmos um pouco mais dos Nestorianos e do iniciador dessa heresia. Nestório foi bispo de Constantinopla (429 d.C.) e defendeu como verdade o fato de que em Cristo havia duas naturezas (humana e divina) e duas pessoas: a pessoa do Filho de Deus e a pessoa do homem Cristo, filho de Maria. Maria seria, portanto, mãe apenas do homem Cristo, mas não seria mãe de Deus. Contra essa heresia se levantou providencialmente a voz de outro grande bispo: Cirilo de Alexandria.

Cirilo e Nestório trocaram algumas cartas onde se mostravam em posições antagônicas no tocante à maternidade divina de Maria. O primeiro era claramente a favor de que Maria merecia o título de Theotókos, enquanto que o segundo defendia a impossibilidade de uma criatura ser a mãe de Deus.

O fim da questão aconteceu durante o Concílio de Éfeso (431), que teve Cirilo como presidente. Durante esse Concílio, os padres conciliares trataram a fundo a questão da maternidade divina de Maria: Maria era ou não a Mãe de Deus? Ao final deste Concílio a doutrina de Nestório foi condenada e promulgou-se o Dogma da Maternidade Divina de Maria: “Se alguém negar que o Emanuel é verdadeiramente Deus e que por isto a Virgem Maria é a Mãe de Deus tendo ela gerado, segundo a carne, o Verbo de Deus, seja condenado”.

Algumas conseqüências ...

Na verdade, o Concílio de Éfeso só fez reafirmar a doutrina dos Concílios anteriores, que afirmavam que Cristo era verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem; portanto, se Maria é mãe de Cristo, ela é mãe de Deus, pois não se pode em Cristo, separar a natureza divina da natureza humana, assim, Maria não pode ser mãe só do homem, mas ela é necessariamente Mãe de Deus, sob pena de se negar a Encarnação do Verbo (Jo 1,14) e conseqüentemente toda a redenção operada por meio de Cristo Jesus.

Através da proclamação desse Dogma, a Igreja nos ensinou que Maria é verdadeiramente a Mãe de nosso Senhor, como disse sua prima Isabel ao recebê-la em sua casa (Lc 1,43) e que esta verdade é tão importante para a fé cristã que não pode ser questionada de maneira alguma.

Maria não foi apenas um simples instrumento que permitiu a Deus tornar-se presente entre nós: instrumento que poderíamos até desconhecer ou desprezar. Não, não e não! A pessoa de Maria, humana e concreta, sua natureza e sua história, estão intimamente ligadas ao grande mistério da Encarnação do Verbo de Deus, por isso Isabel exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).

Maria foi e é, por escolha divina, verdadeiramente a Mãe de Deus (Theotókos)!!! Por isso todas as gerações a chamarão bem-aventurada, pois o Senhor operou nela maravilhas... O próprio Lutero certa vez exclamou: “Ela [Maria] não tem somente a glória de ser Mãe e Virgem, de ser Mãe do Filho de Deus, mas tem a salvação sobretudo pela fé (...) porque ela é morada eterna do Espírito Santo e permanece uma perpétua, santa e bem-aventurada Mãe para a eternidade”.

Que grande mistério: uma mulher, uma criatura, tornou-se a Mãe de Deus! Através desse mistério, podemos perceber até onde vai o amor de Deus, que não “calcula”, que não se guia meramente pelas “lógicas” e “sabedorias” humanas e que, muitas vezes, parece, aos olhos do mundo, loucura (cf. 1Cor 1,17-25).

Maria recebeu, sem dúvida, imensa honra da parte de Deus, mas, é preciso que nos atenhamos à seguinte verdade: em Maria, toda a humanidade recebeu o privilégio sem igual de acolher o próprio Deus eterno, que entrando na história se fez Homem, como eu, como você, como Maria ... Deus se tornou um de nós, Deus se tornou um conosco (Emanuel – Is 7,14), e nós nos tornamos um com Ele. Você já meditou sobre isso? Você já mergulhou em oração neste mistério?

A Maternidade Divina de Maria é um grande convite que Deus nos faz para que descubramos, ainda que já o tenhamos feito, a imensidade de seu amor por nós. Ele que nos amou tanto, que quis se tornar um de nós, quis ser gerado no seio de uma mulher, como todos nós, quis ser amamentado, educado, ajudado, amado ... por uma mãe, como nós... E se Ele a amou de todo coração, aos moldes de um bom filho, como não amá-la? Como é que nós, que somos cristãos, que fomos salvos por Cristo, que, pelo Batismo, nos tornamos partícipes de seu corpo, podemos não amar Maria? Ela que é mãe de Cristo, cabeça da Igreja, é mãe de todos nós que somos membros de Cristo (1Cor 12,12-30).

Dizer que Maria é mãe de Deus é dizer que Maria é Mãe nossa, minha mãe, sua mãe, nossa mãe... e João nos deixa isso claro em seu Evangelho: “Jesus então, vendo a sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’. E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa”(Jo 19,26-27).

Sabemos que a Palavra de Deus é eterna e que você é muito amado por Jesus, portanto, escute o Filho de Maria que te diz: “João, Maria, Fernando, Francisca... eis aí tua Mãe, EIS AÍ NOSSA MÃE !!!”.

Você tem o privilégio de compartilhar com o próprio Deus a filiação à Maria. Bendito seja Deus, que em sua Misericórdia nos deu Maria como nossa Mãe. Nossa Senhora, Mãe de Deus e Mãe nossa, rogai por nós!

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