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domingo, 28 de julho de 2013

A catequese do Papa Francisco


Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales

A presença do Papa Francisco é contagiante. Seus gestos palavras vão direto ao coração do povo brasileiro, com suas mensagens ao mesmo tempo simples e profundas. Tão logo não esqueceremos esta catequese, feita dos episódios de sua agenda, que assim se transformam em cenários para as novas parábolas do mesmo Evangelho de Cristo.
Desta maneira, seus ensinamentos recebem um contexto concreto, que ajuda a medir o alcance de sua “doutrina social”, feita não de princípios teóricos, mas de afirmações claras e práticas. Para isto certamente o ajuda sua formação jesuítica, com os tradicionais três pontos, que vão cadenciando suas afirmações.
Esta sequência de três pontos pode ser identificada em sua fala na favela. Lá ele tomou a realidade concreta da pobreza, para desenvolver seu raciocínio. A primeira afirmação é primorosa: “Uma sociedade que não cuida dos seus pobres, se empobrece a si mesma.”. À primeira vista pareceria só uma frase de efeito. Mas conferindo bem o seu alcance, nos damos conta de sua pertinência e sabedoria. A pobreza maior não se encontra junto aos pobres, mas se constitui do empobrecimento perverso de quem se fecha em seu egoísmo, e ignora as riquezas humanas que se encontram nos pobres.
Prosseguindo em sua catequese social, o Papa Francisco constata que “a melhor maneira de medir a grandeza de uma sociedade é ver a maneira como ela trata os mais necessitados”. Que sabedoria e que lucidez!
Daí decorre o terceiro ponto de sua breve homilia. Ele tem evidentes feições práticas, sinalizando o compromisso que ele propõe a todos. No atendimento aos seus pobres, a sociedade pode redescobrir seus melhores valores, que acabam enriquecendo o conjunto da sociedade, que passa a integrar a solidariedade como valor prático que faz multiplicar os bens que aumentam na medida que são compartilhados.
Outros ensinamentos muito oportunos foram dados por ocasião da visita ao Hospital São Francisco, onde é feito um trabalho caridoso e competente de recuperação de dependentes químicos. O difícil assunto a abordar era a droga. E ele o abordou de maneira serena e firme.
Em primeiro lugar, afirmou que a situação da droga hoje em dia pede da sociedade um gesto de coragem. Isto implica uma postura consciente, decidida e articulada contra a droga, buscando sempre as causas de onde brota o problema, em cuja raiz existem duas vertentes. Uma é a ganância, que leva os traficantes a perderem o escrúpulo de matar para garantir o seu lucro. Outra vertente é a falta de valores, especialmente nos jovens, que se tornam vulneráveis diante de ofertas feitas de modo traiçoeiro por quem deseja envolvê-los para depois explorá-los.
De fato, o problema da droga é tão sério que a sociedade deveria se declarar em estado de calamidade, para um enfrentamento claro contra “os mercadores da morte”.
No combate contra a droga é preciso integrar as duas dimensões, lembradas na abertura do Concílio pelo Papa João 23, referindo-se à severidade e à misericórdia. Muito otimista, João 23 observava que a Igreja ganha mais usando hoje o remédio da misericórdia, do que o remédio da severidade.
Com a droga, é preciso integrar as duas posturas. Com os traficantes, usar o remédio da severidade. Com as vítimas da droga, usar o remédio da misericórdia, revestindo-nos dos sentimentos de Cristo, que tinha compaixão com as multidões, mas batia de rijo contra os fariseus.
Portanto, com os “mercadores da morte”, o remédio da severidade. Para com os drogados, o remédio da misericórdia. Com isto, inverteríamos a tendência: em vez da droga degenerar a sociedade, o combate contra ela redescobriria o caminho para a sua realização verdadeira.

Fonte: Rádio Vaticano. 

Foto: JMJ/Flickr. 

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