Este filme ‘Noé’, que recentemente foi
estreado no Brasil, apresenta uma visão que não se coaduna com a
interpretação que a Igreja dá do episódio do dilúvio e da aliança de
Deus com Noé. O filme traz uma interpretação que nada tem a ver com a
visão da Igreja. Senão vejamos.
Os quatro capítulos do Gênesis (6-9) narram o dilúvio bíblico e
significa uma expressão do pecado que, a começar com Adão e Eva vão se
alastrando cada vez mais. Esta narração contém, como pode-se notar
quando se lê atentamente, repetições e contradições. Os exegetas
(estudiosos da Bíblia) concluem que a narração é a fusão de dois
documentos (fontes Sacerdotal P e Javista J) conservando cada qual os
seus detalhes próprios, sem que o autor sagrado tivesse a preocupação de
harmonizá-los entre si. Isto mostra que o autor sagrado não estava
preocupado com detalhes menores, e visava sim um sentido mais profundo,
uma mensagem religiosa.
Nas tradições dos povos antigos há cerca de 290 histórias antigas de
dilúvio, e todas com uma base comum: há uma grande catástrofe por conta
de uma grande ofensa dos homens contra a divindade. O elemento do
castigo que mata os homens e os animais pode ser a água, o fogo, o
terremoto, etc.
Na Babilônia há quatro versões semelhantes de dilúvio, semelhantes ao
da Bíblia. Note que Abraão foi oriundo da Mesopotâmia. Aos olhos da
ciência é certo que não houve um único dilúvio universal.
Quando o texto bíblico fala de “terra inteira” e “todos os homens”
não fala em sentido geográfico, mas religioso, hiperbólico (Gn 41,54.57;
Dt 2,25; 2Cr 20,29; At 2,5) isto é, o gênero humano para o autor
sagrado se reduzia àqueles que transmitiam os valores religiosos da
humanidade.
A mensagem do relato do dilúvio (Gn 6-9) quer mostrar o seguinte:
Deus é santo e puro; Deus é justo; não pode deixar o mal imperar; Deus é
clemente; convida à conversão antes de corrigir. O dilúvio marca o fim
de um período da história religiosa da humanidade e marca o início de
uma nova era; é como se fosse o início de um novo mundo, onde Deus faz
aliança com Noé, o “pai” da nova humanidade.
Noé é uma imagem de Cristo. Noé salvou a humanidade pelo lenho da
arca, Cristo vai salvá-la pelo lenho da cruz, do dilúvio do pecado. A
arca de Noé é uma figura da Igreja; assim como ninguém sobreviveu fora
da arca, ninguém se salva fora da Igreja. Todos os que se salvam, mesmo
que não pertençam à Igreja, se salvam por meio de Cristo e da Igreja,
ainda que não saibam disso;
As águas do dilúvio são figura do Batismo, que pela água dá vida aos
fiéis e apaga os pecados; o dilúvio, como nova criação, prefigura “os
novos céus e a nova terra” (2Pe 3,5-7.10) que haverão no fim da
história.
Como se pode ver, esta visão da Igreja nada tem a ver com a visão apresentada no filme ‘Noé’.
Por Prof: Felipe Aquino
Fonte - http://cleofas.com.br/o-filme-noe-e-o-diluvio/
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