“A santidade é uma possibilidade para todos”
“Sou santo!” Quando
ouvimos uma declaração dessas nos assustamos ou achamos presunção, orgulho,
vaidade. Facilmente retrucamos afirmando: “Santo de pau oco?!”
A santidade nos
parece algo tão distante ou quem sabe meio impossível. Por isso nem pensamos em
persegui-la para alcançá-la. Embora Jesus nos tenha ordenado: “Sede perfeitos
(santos), assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5, 48).
Podemos mesmo pensar
que a santidade seja um chamado e uma possibilidade apenas para algumas pessoas
especiais como papas, bispos, fundadores de comunidades e congregações
religiosas. Mas não é assim. A santidade é uma possibilidade para todos, de
modo especial para os batizados.
No batismo,
recebemos o Espírito Santo. Não costumamos dizer “fogo quente”, pois, trata-se
de uma redundância, já que só será fogo se for quente; nem “gelo frio”, pelo
mesmo motivo. Mas, podemos afirmar que o Espírito que recebemos no Batismo é Santo,
pois este tem como função santificar. A função do fogo é aquecer. A do gelo,
esfriar. A do Espírito, santificar.
No livro do Êxodo
vemos uma bela passagem que nos pode ajudar a entender a santidade: “Moisés
notou que sarça estava em chamas, mas não se consumia” (Êxodo 3, 2). Deus disse
a esse profeta: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma
terra santa” (Êxodo, 3, 5).
Passemos o Novo
Testamento à nossa vida.
a. A chama que
queima e não se consome é o Espírito Santo, que recebemos em nosso batismo. Ele
é Deus. Está em nós. É uma chama divina que habita em nosso interior e jamais
se consome. Quando acendemos um fogo, se não pusermos lenha sempre que
necessário, ele apagará. Consumida a lenha, termina o fogo. A chama do fogo do
Espírito Santo é esta “sarça” que queima sem parar em nosso interior. Ela é
capaz de queimar o tempo todo e não se consumir. Isso ocorre porque se trata de
uma chama divina, portanto, não necessita que “se reponha a lenha”.
b. Esta terra é
santa. Quem a santifica é a presença da chama ardente, que não se consome. Que
permanece acessa. A terra torna-se santa devido à chama que nela está
queimando. Aqui nos damos conta de que há verdadeiramente a possibilidade de
sermos santos. A santidade é possível não porque sejamos uma terra santa por
nós mesmos. Somos e continuamos pecadores, mas em nós arde uma chama, “a chama
do amor”, a chama do Espírito Santo. Quem se deixa iluminar, é aquecido por
ela. Quem segue este conselho da Palavra de Deus “deixai-vos conduzir pelo Espírito
e não satisfareis os apetites da carne” (cf. Gálatas 5,16), crescerá em
santidade, tornar-se-á “uma terra santa”.
Santidade é uma
obra do Espírito Santo em nós. Assim como o fruto é uma “obra” da árvore; a
pintura, do pintor; a escultura, do escultor; a santidade é uma ação do
Espírito Santo Paráclito. Esta santidade poderá ser percebida pelos frutos
daquela “terra” na qual arde a “sarça” do Espírito: “o fruto do Espírito é
caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura,
temperança” (cf. Gálatas 5, 22).
c. “Tira as
sandálias dos pés”. Posso pisar sobre um fio elétrico e levar um grande choque
ou não. Depende do isolante que eu tenha em meu calçado. Deus diz a Moisés:
“Tira o 'isolante' dos teus pés”. Tira as sandálias! Pisa na terra! Entra em
contado direto com ela. Sente o calor da terra. Deus deu-nos o Espírito Santo.
Quis colocá-Lo tão em contato conosco que acabou colocando-O dentro de nós.
Somos por Ele habitados para estarmos em contato direto o tempo todo e totalmente
com Ele. Onde há isolante, a energia não chega. A cinza que se acumula sobre a
brasa não permite que ela aqueça o churrasco. É preciso soprá-la. Jesus “soprou
sobre eles dizendo-lhes: recebei o Espírito Santo” (cf. João 20, 22). O calor
do Espírito nos aquece. Com esta força podemos progredir na santidade.
Se até hoje
buscamos a santidade pelas nossas boas obras, renúncias, sacrifícios, podemos
continuar. Mas, vamos acrescentar nessa busca a súplica constante para que o
Pai dos Céus, que nos adotou como filhos, continuamente, sopre sobre “as brasas
do Espírito” que recebemos no batismo. Que a chama da sarça do Espírito cresça
sempre mais nesta terra, templos do Espírito, que somos, como nos diz a
Palavra: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita
em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos
pertenceis?” (I Coríntios 6,19). Desta forma nos tornaremos cada dia mais
santos, porque possuídos, fortificados e guiados pelo Espírito Santo.
Peçamos todos os
dias: Sarça ardente do Divino Espírito, que habitas em mim, e que me tornastes
santo pelo Batismo, ajuda-me a progredir no caminho da santidade e a produzir
os frutos do Espírito. Então não precisarei dizer para ninguém: “sou santo!”.
Essa declaração vai se tornar dispensável, pois, “pelos seus frutos os
conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos?”
(Mateus 7,16).
Padre Alir
Sanagiotto, SCJ
(Fonte – Canção
Nova)
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