Maria, "a mãe de Jesus" (Jo 2,1; 19,25; Mt 13,55),
"a mãe do meu Senhor" (Lc 1,43)
"a mãe do meu Senhor" (Lc 1,43)
A mariologia católica atual deve muitíssimo à Santo Agostinho. Pode-se até afirmar sem exageros, que a "substância" do culto mariano nos nossos dias, está toda explicada de forma convincente e calorosa na obra agostiniana. E mais, a difusão do conhecimento e da devoção à Maria em toda a igreja, devem-se as reflexões do grande santo, pois, até então, não havia uma devoção bastante viva na piedade popular daquela época.
Foi na Idade Média que o culto à Nossa Senhora teve seu tempo áureo, a semente lançada por Santo Agostinho desabrochava.
Neste contexto, os tópicos a seguir, serão descritos segundo a espiritualidade agostiniana.
I - A MATERNIDADE FÍSICA E REAL DE MARIA:
É bíblico: "Jesus Cristo foi formado da estirpe de Davi segundo a carne. "(Rm 1,3), pois Maria era parente de Davi, significando que Ele foi modelado do limo da terra (Gn 2,7). Ainda em Gn 2,5: "Não havia ainda nenhum arbusto sobre a terra, porque não havia homem para cultivar o solo". Quer dizer, nenhum varão tocara a virgem, da qual nasceria Cristo.
"E uma fonte brotava da terra e regava toda a sua superfície."(Gn 2,6). "A superfície da terra", "A face da terra", "A dignidade da terra", significa justamente, a Mãe do Senhor, a Virgem Maria, a quem o Espírito Santo irrigou.
Maria é o ponto de enlace do céu com a terra. Cristo veio a nós, descendo primeiro em seu seio, onde se desposou com a criatura humana a carne mortal, para que ela não fosse mais mortal.
Cristo nasceu segundo a carne da estirpe de Davi, e Maria, sua mãe, O concebeu virgem.
II - A VIRGINDADE PERPÉTUA E PERFEITA DE MARIA (ANTES, DURANTE E DEPOIS DO PARTO)
Maria, Virgem concebeu. Virgem deu à luz. Virgem viveu. Assim, Cristo destruiu a possível soberba motivada pela carne.
Deus quis nascer de uma virgem fecundada pelo Espírito, não pela carne; pela fé, não pela concupiscência. Não houve concupiscência de carne, causa do mal de quantos nascem com o pecado original.
Excluída, em absoluto, a concupiscência, a fé - não a união de corpos - fecundou a santa virgindade, a fim de que Aquele que nascia da propagação do primeiro homem, tomasse a sua natureza, e não o seu pecado.
Nascia um homem sem pecado, presente ou futuro, pelo qual nascerão, livres de culpa, aqueles que não tem a possibilidade de nascer sem pecado.
Pode-se deduzir que a fé em contraposição com a concupiscência, tenha sido a condição prévia para a possibilidade da concepção, explicando como Cristo é igual aos homens, e ao mesmo tempo, distinto deles. Ele não contraiu o pecado original, apesar de proceder da raça de Adão.
III - A FUNÇÃO ÚNICA DE MARIA NA ECONOMIA DA REDENÇÃO E A SUA SEMELHANÇA COM A IGREJA:
Dentre os Padres da Igreja, foi Santo Agostinho que mais insistiu sobre o papel incomparável de Maria na redenção da humanidade.
"Por que nasceu Cristo de uma mulher?". Ele perguntava e respondia: "Como o filho de Deus encarnou-se para salvar a humanidade inteira e, fazendo-se homem, tomara o sexo masculino, como convinha, era preciso que nascesse de uma mulher para manifestar claramente a salvação de outro sexo. Como fomos perdidos por um homem e uma mulher, convinha que também assim fôssemos salvos."
Magistralmente, o grande santo explica MT 12,49-50: "Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe".
"Por acaso, não fez a vontade do Pai a Virgem Maria que acreditou com fé (às palavras do anjo), e que pela fé concebeu; foi escolhida para que dela nascesse a salvação entre os homens; foi criada por Cristo e antes de Cristo nela ter sido criado? Maior felicidade para ela ter sido discípula do que mãe. antes de dar a luz ao Mestre, ela já o trazia em seu espírito". O fato de ser mãe de Cristo traz à Maria lugar único no mistério de Redenção já que por meio dela é que veio ao mundo o Salvador.
Cristo é verdade. Cristo é carne. Cristo-Verdade esteve na mente de Maria, Cristo-Carne no seu seio. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.
Santa é Maria! Abençoada é Maria! Mas a Igreja é superior à Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é uma porção da Igreja, um membro, um membro excelente, um membro supereminente, mas membro do Corpo total. Ora, se é parte do corpo total, sem dúvida o corpo é maior do que um membro, seja ele o de Maria. A cabeça é o Senhor. E o Cristo total é a Cabeça e o corpo.
Em sintonia com Santo Agostinho, no seu famoso Sermão (88,4 5º do Natal), o Papa João Paulo II dizia que: "A Igreja é mãe como Maria Virgem: mãe pelo ardor da caridade, virgem pela integridade da fé, que guarda, defende e ensina".
IV - MARIA: MODELO DE SANTIDADE PARA TODOS OS FIÉIS
Como Maria, a Igreja é virgem, não somente na porção eleita de seus membros que seguem esta vocação particular, mas em todos os cristãos que guardam "a integridade da fé, da esperança, da caridade". Sem essa finalidade, de nada serviria a virgindade corporal. Assim, o admirável modelo de santidade em Maria é proposto a todos os fiéis, sem distinção.
Belíssimo o que Santo Agostinho falou em um de seus Sermões à respeito: "Senhor, tu te dignastes vir até nós, na carne. Sendo Deus, fizeste-te homem. Como verbo, estás acima de nós. Como homem, estás no meio de nós. Como Verbo-Carne, estás entre Deus e os homens. Elegeste uma virgem para dela nascer conforme a carne. Para ser concebido buscaste uma virgem. Tendo nascido a conservaste virgem".
Maria foi predestinada e escolhida por Jesus, para ser sua mãe na carne.
"Em tua descendência serão benditas todas as nações" (Gn 12,3).
Maria nasceu do povo de Israel, deu à luz à Cristo. E em Cristo são benditas todas as nações.
A admirável santidade de Maria é fruto da graça de Deus que a cumulou, por causa da sua missão. A virtude da fé ocupa, sem dúvida, o 1º lugar em Maria. A fé alimentada pela caridade é, por excelência, a cooperação dada por ela na encarnação do verbo.
A obediência brilha entre todas as virtudes da fé, caridade e humildade, principalmente na atitude com que Maria escuta e põe em prática a Palavra de Deus.
A castidade ilibada de Maria atesta a ausência de qualquer traço de pecado na concepção de Jesus.
Todos os cristãos podem ter Maria como modelo luminoso sob diversos aspectos (como virgem, esposa, filha, amiga, mãe...) em qualquer estado de vida, vocação particular, fazendo em tudo a Vontade do Pai.
V - MARIA: MATERNIDADE DIVINA
O Dogma da Maternidade Divina de Maria foi declarado no III Concílio Ecumênico, em Éfeso, um ano após a morte de Santo Agostinho, em 431: "In regula fidei confiteremur: credere nos in Filium Dei qui natus est ex Virgine Maria". Esta fórmula permanece até hoje. "A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente mãe de Deus (THEOTÓKOS)". (cf. o Catecismo da Igreja Católica, nn 495 e 496).
Segundo o Bispo de Hipona, "Quando o Verbo de Deus assumiu um corpo no tempo, para viver nossa vida temporal, não perdeu a eternidade, ao contrário, concedeu a imortalidade também à carne". Dizia ainda: "O Criador de Maria nasceu de Maria o Filho de Davi é o Senhor de Davi. E é da linhagem de Abraão. Aquele que existe antes de Abraão. O Criador da terra foi feito na terra. O Criador do Céu foi criado sob o céu."
O Verbo de Deus, Jesus, por quem foram feitas todas as coisas não poderia formar para si um corpo, sem o auxílio de uma mãe? Da mesma forma, Ele fez o primeiro homem, sem pai, nem mãe. Mas, como foi Deus quem criou o sexo masculino e o feminino, ele quis honrar com o seu nascimento a ambos, pois veio para libertá-los. Logo, nenhum dos dois sexos terá queixa diante de Deus Pai Criador. O nascimento de Jesus autoriza a esperança e a salvação para ambos os sexos.
"A honra do sexo masculino está na carne de Cristo. A honra do sexo feminino, na mãe de Cristo".
VI - MARIA: MEDIANEIRA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO
A mãe de Jesus colaborou ativamente no mistério da salvação humana, não só no sentido físico, mas no moral e espiritual.
É muito belo o que Santo Agostinho fala sobre isso no seu Sermão 51, 3: "Tomou, pois o Senhor o sexo masculino para si, e nasceu de uma mulher, para o consolo do sexo feminino, como que dizendo: 'A fim de que saibas que a criatura humana não é má, mas foi só um mau desejo que a prejudicou. No princípio, quando fiz a criatura humana, Eu a fiz do sexo masculino e feminino. Não vou condenar a criatura por mim feita. Eia , pois, que nasço varão, e nasço de uma mulher. Desse modo, não condeno a criatura que é obra minha, mas sim seus pecados, pois esses não são obra minha'."
E o santo nos encoraja: "Que cada sexo, estime sua dignidade. Confessem ambos a sua iniqüidade e esperem a salvação. Para enganar o varão, foi destilado o veneno pelas mãos de uma mulher. Para restaurar o homem seja, pois, pela mulher, ministrada a salvação".
Assim, gerando a Cristo, ela repara o pecado de haver enganado o homem.
Conclui, explicando: "Por essa razão, foram também as mulheres as primeiras a anunciarem aos apóstolos a ressurreição de Deus. Se uma mulher deu a conhecer a morte a seu esposo (Eva e Adão), no paraíso, as mulheres darão a conhecer aos homens a salvação da igreja."
Santo Irineu diz de Maria, "obedecendo, se fez causa de salvação, tanto para si quanto para todo o gênero humano." (Odv. Haer. 3, 22, 4).
VII - O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Em 1854, foi proclamado o Dogma da Imaculada Conceição de Maria, pelo Papa Pio IX: "A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original." (DS 2803)
A doutrina católica ensina que, à Maria foi concedida maior abundância de graça para vencer qualquer pecado. Ela mereceu de Deus, nascer, conceber e dar à luz, sem pecado algum. Deus a criou imaculada, ela nunca esteve sob o domínio do demônio, fatos reconhecidos e defendidos por Santo Agostinho, que indiretamente, contribuiu para a definição dogmática de seu nascimento sem pecado algum.
VIII- O DOGMA DA ASSUNÇÃO CORPÓREA DE MARIA
A carne de Jesus é a carne de Maria.
No Salmo 115, 15, se canta que "a morte de todos os santos é preciosa". A de Maria, certamente, é mais preciosa ainda, que pôde ser chamada Mãe de Deus e que o foi de fato.
Ficou isenta de corrupção aquela que fora inundada com tantas graças. Deveria viver, toda inteira, aquela que gerou a Vida perfeita e completa de todos os humanos.
Que ela esteja com aquele a quem trouxe no seio: que esteja junto àquele que pôs no mundo, a quem aqueceu e nutriu. "Maria, a Mãe de Deus, a ama de Deus, o reino de Deus a imitadora de Deus". (Santo Agostinho)
A proclamação do Dogma da Assunção de Maria, foi em 1950, pelo Papa Pio XII:
"Finalmente, a imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha de culpa original, terminando o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E, para que mais plenamente estivesse conforme à seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo" (L 6 59: Pio XII).
"Em vosso parto, guardaste a virgindade, na vossa dormição não deixastes o mundo, ó mãe de Deus: fostes juntar-vos à fonte da vida, vós que concebestes o Deus vivo e, por vossas orações, livrareis as nossas almas da morte." (Liturgia bizantina)
Escrito por Tereza Costa Matos, Instituto Secular Mãe do Divino.
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