...ou até não sofrer nenhuma
decepção
Hoje em dia, a maioria da
população vive na cidade. Cada vez mais aumenta o número dos que deixam os
ambientes rurais e cidades pequenas para habitarem nos grandes centros urbanos.
É indispensável que este dado seja considerado para que possamos nos dar conta
da importância da acolhida em nossas igrejas e comunidades.
A vida no interior
No ambiente rural, nas
vilas ou pequenas cidades, normalmente, todas as pessoas se conhecem. Podem não
saber endereços, mas, com a maior facilidade, sabem indicar ou levar alguém
aonde quer que este precise chegar. Estas localidades favorecem que as pessoas
tenham muitas coisas em comum, que as aproximam e unem:
- Ali existe uma escola da
qual se sabe o nome do diretor, professores e até dos funcionários;
- Ali pode existir um
pequeno time de futebol para o qual todos torcem ferrenhamente;
- Existe uma igreja da
qual todos se sentem membros e responsáveis;
- O dono da venda conhece,
literalmente, todos os seus “fregueses de carteirinha”;
- Quando alguém nasce,
celebra-se um casamento ou uma festa na comunidade, todos ficam sabendo ou se
sentem envolvidos.
- As pessoas têm amigos a
quem recorrer na hora da necessidade.
- Em caso de morte, toda a
vila para a fim de se juntar à família enlutada. E assim por diante…
A comunidade existe em
toda a sua essência, ou seja, as pessoas têm muitas coisas em comum, conhecem e
são conhecidas e acolhidas em qualquer casa e ambiente social.
A vida na cidade grande
No ambiente urbano há uma
realidade totalmente distinta do ambiente rural:
- Pouquíssimos sabem quem
é o diretor da escola, muito menos quem são os professores;
- Os pais dos alunos têm
em comum apenas a pessoa que vai apanhar seus filhos na escola, mas poucos se
conhecem e muito mal se cumprimentam;
- Não existe um time de
futebol do bairro;
- Cada um faz suas compras
em um local diferente, e muitas vezes de acordo com o que está em oferta. Ali é
atendido por um caixa que no máximo pergunta: “Qual é a forma de pagamento?”
Nas grandes cidades nada se adquire sem dinheiro. Nada de cadernetinha!…
E quanto à igreja da
cidade?
Como é recepcionado um
novo e desconhecido membro recém-chegado? É importante atentar para o fato de
que, por sermos uma Igreja com muitos membros, podemos correr o risco de
conhecer apenas os que participam do mesmo grupo de pastoral ou movimento.
Quanto aos demais, quem conhecemos?
Infelizmente, não é raro
acontecer de um fiel frequentar uma determinada igreja durante 20 anos e
permanecer um anônimo no meio da multidão, por não estar engajado em nenhuma
atividade que o torne conhecido. Assim, embora sua participação seja
importante, pois está sempre presente nas celebrações, muitas vezes é
dizimista, tem filhos na catequese, continua um desconhecido e sua ausência
dificilmente será notada!…
Então, o que pode
acontecer com o novato que timidamente chegou de fora, que tem dificuldade de
relacionamento social ou se sente acanhado quando chega pela primeira vez em
nossa comunidade? Habituado a um relacionamento caloroso e interpessoal na sua
vila, roça ou cidade pequena, ao chegar à cidade grande e perceber a frieza do
ambiente, fatalmente se sentirá deslocado. Então começa a girar de igreja em
igreja à procura de uma acolhida melhor e mais calorosa.
Rodando pelas igrejas, num
determinado dia, sente-se bem recebido e valorizado. A tendência é que diga:
“Finalmente encontrei o que eu tinha no passado ou que sempre sonhei: pessoas
com quem posso me relacionar e, junto, louvar e servir a Deus”. A partir desse
encontro, permanecerá ali. Passará a ouvir a Palavra e se tornará um membro
ativo, ao menos enquanto não sofrer nenhuma decepção.
Este pode ser o caminho
não apenas daquele que vem do interior, mas de muitos outros que sentem um
vazio ou passam por momentos de crise em sua vida. Por isso procuram uma
igreja. Mas também procuram pessoas com quem possam relacionar-se e ouvir
palavras que possam dar um rumo em sua vida.
A vida na cidade é muito
fria. As pessoas representam “perigo”, “ameaça”, são encaradas como
“concorrentes” e não como amigas e companheiras em quem se possa acreditar e
confiar. Por isso mesmo, ao encontrar irmãos que as acolham acabam ficando por
ali mesmo. Muitas vezes, percebem que estar ali não é o mais correto, que
doutrinalmente não é o melhor. Que há muitas coisas contra sua fé original e
contra a Igreja a qual pertenciam. Mas, por causa do calor humano, permanecem
ali. A acolhida e o calor humano acabam “falando mais alto” que as
verdades teológicas e a fé recebida de berço e cultivada durante muitos anos
numa Igreja. Eis, então, onde pode surgir nosso ardor missionário enquanto
discípulos de Jesus: no acolher. Acolher com calor humano e com uma
evangelização que faça com que cada católico tenha um encontro pessoal com
Jesus Cristo, como nos foi pedido no Documento de Aparecida.
Nas cidades, o acolhimento
passou a ser, para muitos, o primeiro e principal valor e referência. “Vou e
permaneço onde sou bem acolhido”, passou a ser a prática para muitos que foram
batizados e permaneceram por um período na Igreja Católica. “Afasto-me e não
volto mais quando ou onde sou mal acolhido, porque minha expectativa de ser bem
recebido não foi correspondida”.
Nas cidades não há mais a
escola, o time de futebol, a venda, a igreja e os costumes que uniam essas
pessoas aos outros. Nelas tudo é estranho e confuso. Não restaram mais os
antigos valores. O que restou mesmo foi a acolhida. “Aqui cheguei. Aqui me encantei.
Aqui ficarei. Porque aqui fui bem acolhido. Onde sou acolhido crio raízes”!
Portanto, conto com você:
Reforçando o que foi citado no artigo anterior, “a acolhida faz a diferença”
muitos deram suas sugestões, espero que você acolha este artigo e dê sugestões
práticas de como cada um de nós, membros da Igreja Católica, independente do
posto ou grau que ocupamos ou servimos, pode se tornar mais acolhedor.
Se este é o grande e
esperado modo de conquistar nossos irmãos, cultivemo-lo!
A partir de ideias e sugestões
prometo escrever um terceiro artigo visando aprofundar este assunto tão
importante e pertinente.
Padre Alir
(Fonte – Canção Nova)
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