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terça-feira, 25 de maio de 2010

Textos de Dom Anuar e Dom Orlando Brandes sobre Pe.Silvio Andrei

Aonde estavam os amigos naquela noite?

Depois de ouvir a triste notícia envolvendo o Padre Silvio Andrei, tentei me colocar no lugar dele e procurei interpretar o que teria passado em seu coração naquele dia e como ele estaria vivendo estes momentos. Assim, fiz a seguinte reflexão: Aonde estavam os amigos que me convidaram para participar do casamento? Aonde foram aqueles que comigo beberam e fizeram festa e quem sabe até caçoaram do meu estado? Ninguém viu que eu estava com o comportamento diferente depois daquelas bodas que abençoei?

Certamente, descontrolado fiquei sozinho e sem rumo. Fui invadido por sentimentos e desejos que conscientemente nunca teriam espaço e visibilidade em meu ser gente. Até que ponto posso contar com amigos de verdade, amigos que ao redor da mesa e nos desequilíbrios do cotidiano são capazes de dar tudo até a própria vida, se for preciso? Sei que o humano, marcadamente frágil, tomou o lugar do divino, profundamente forte. O mal agiu, porque eu estava sozinho.


Como senti naquela noite a falta de um amigo verdadeiro! Assim não teria passado pelo ridículo vexatório, não teria sido tratado como marginal, como trapo humano, ridicularizado pela mídia ingrata e sensacionalista, em que conta o ibope criado sobre a desgraça do outro. Sem minimamente se preocupar com o ser humano, o pecador é pisado, maltratado sem piedade. Os direitos humanos desaparecem imediatamente.


O importante é o pecado, a desgraça alheia. Lamentavelmente é sempre assim. Ridicularizado, não pela culpa e sim pelos atos conscientes ou não. Naquela hora não valeu o meu passado, ninguém me reconheceu, ninguém me conhecia, fui colocado no fogo do inferno. Fui jogado e algemado como criminoso, perdi a identidade de ser humano.


A dor do pecado é doída demais. A cruz neste calvário pesa enormemente. Nunca me passou pela cabeça viver momentos tão difíceis. Agora eu preciso viver esses momentos intensamente, sem olhar para trás, querendo consertar o passado. Hoje vibra em meu ser e no meu coração as Palavras do Mestre: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra. Aonde estão aqueles que te condenaram? Ninguém te condenou, nem eu te condeno, vai, e não voltes a pecar”. Como faz bem trazer ao coração as Palavras daquele que me chamou, contou e continua contando comigo. Sei disso. Não só sei, tenho certeza. A minha mãe é a Igreja na qual sou servo. Certamente ela não me abandonará, porque ela é mãe.


Sou o que sou. Fiz o que fiz. Estou profundamente arrependido. A justiça humana julgará. Sinto que diante de Deus sou tratado como filho, sou querido como sempre fui, porque conheço o Pai que tenho. Afastei-me, machuquei o meu coração e o coração do Pai, da minha família humana e espiritual. Manchei sim as vestes do meu ministério. A minha vocação que nasceu de maneira tão simples e cresceu de forma tão equilibrada, agora se desequilibra. Sei, porém, que essa aparente vitória do maligno é passageira.

Sei em quem acreditei e vou continuar acreditando, porque o amor de Deus por mim é maior do que tudo. Ele me amou por primeiro, e seu amor por mim é verdadeiro! Eu falhei, mas Ele não falha. Ele me ama. Como me faz bem tomar consciência de que, apesar de tudo isso, posso contar com alguém que olha nos meus olhos e me acolhe, me abraça e quer contar comigo como filho.

Dom Anuar Battisti é Arcebispo Metropolitano de Maringá


O Padre Encarcerado e Algemado

"A Violência e a falta de ética está também entre os que deveriam ser guardas e defensores do direito e da justiça. Não queremos justificar o padre, queremos sim que as pessoas sejam respeitadas"

Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina

Nossa gratidão por tantas manifestações de solidariedade, de oração e de compaixão para com o Pe. Silvio Andrei, seus familiares e nossos padres palotinos. Maior gratidão ainda por tantas manifestações de repúdio pelo modo com que o padre foi tratado, preso, fotografado, algemado, humilhado. Esta imoralidade foi bem maior que a do padre.

A igreja, de novo, pede perdão pelas fraquezas e incoerências de seus filhos. O que não podemos admitir é que estes fatos sirvam de ocasião para vinganças e perseguições religiosas. Se alguém pretendeu prejudicar a Igreja acabou por denegrir nossos policiais, nosso sistema carcerário e também toda a nossa região. Grande parte do povo ficou do lado do padre, sem inocentá-lo, mas, com indignação frente ao acontecido.

O caso desencadeou uma série de erros e interrogações. Os direitos humanos foram desrespeitados e mais uma vez percebemos abusos e maldade no meio de quem deveria praticar a justiça e zelar pela dignidade humana, pois míngüem é culpado antes de ser condenado. Quem erra deve ser respeitado como pessoa. Estamos diante de um caso de abuso de poder.

O tratamento humilhante e desumano pelo qual passou o padre trouxe à nossa memória as violações da lei e da justiça que acontecem nas prisões, as quais têm a obrigação de reeducar e recuperar os que erram.

Nem conhecidos criminosos foram tão maltratados, desrespeitados e humilhados como o padre Silvio. A crueldade e a leviandade com que foi tratado revela quanto estamos longe da verdade e do bem. A violência e a falta de ética estão também entre os que deveriam ser quardas e defensores do direito e da justiça. Não queremos justificar o padre queremos sim que as pessoas sejam respeitadas, mesmo estando erradas.

Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina

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