A experiência prova que frequentemente a esquecemos.
A presença eucarística não exerce em nossas vidas o poder de atração
que deveria originar; não é o ímã que deveria atrair nossos corações e
uni-los indissoluvelmente à pessoa de Cristo Jesus. O comportamento de
muitos cristãos aí está para provar que não nos guia aqui uma visão
pessimista das coisas, mas o reconhecimento de dolorosa constatação.
“Vinde a mim todos os que estais afadigados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei” (Mt 11,28). Os termos de que se serve Jesus são prenhes de
significação. “Vinde” exprime um convite instante e alegre; os
“afadigados” são os que trabalham duramente e sentem fraquejarem-lhes as
forças; os “sobrecarregados” evocam esses animais de carga que
carregamos até não suportarem mais. O que equivale a dizer: “Quando não
puderdes mais, vinde. Não busqueis as consolações humanas frequentemente
insípidas e inoperantes; não disperseis as forças que vos restam em
confidências sem fim, em justificações que só acabam por ainda mais vos
azedar, revolvendo lembranças amargas, reabrindo feridas que não chegam a
cicatrizar-se. Vinde então a mim; tenho o que é preciso para vos
tranquilizar. Tende a coragem de tomar minhas palavras ao pé da letra”.
Quantos cristãos têm a lucidez de enveredar por esse caminho, austero,
mas o único vivificante, do recurso a Cristo? São pouco numerosos; pois,
para eles, o que chamam “sustento”, “reconforto”, limita-se ao humano
necessariamente frágil e limitado. Mas para as almas de fé, é este o
incomparável benefício da presença eucarística.
Cristo nos espera para ocupar-se de nós. As almas que tentaram a
experiência sabem o valor do auxílio então recebido; guardam com amor o
seu segredo e aprenderam, para sua alegria, que o recurso ao Cristo da
Eucaristia, em todas as circunstâncias da vida, sobretudo em meio às
dificuldades, não é vão convite; proclamam, na confiança que lhe
votaram, que Cristo disse a verdade. Quando vamos com fé, recebemos.
Não somente esquecemos a presença eucarística, mas dela não tiramos
suficiente proveito. Eis uma afirmação que pode surpreender. Não é
diminuir a Eucaristia, dirão, ou reduzi-la a um fim utilitário, a um
proveito qualquer que dela pudéssemos tirar? Temos o direito de empregar
tal linguagem quando se trata de uma presença tão preciosa?
Que responder a essa surpresa?
Há um princípio que dirige toda a ação providencial de Deus no mundo
das almas; ei-lo: todos os dons de Deus são para a utilidade daqueles a
quem são concedidos. O Cristo eucarístico quer que nos sirvamos dele.
Não o sabemos suficientemente. Para muitos cristãos, não é a Eucaristia
livro de que se conhece apenas o título? Lembrai-vos de que Cristo
encerrou em sua presença eucarística
todas as riquezas de seu coração. Elas são para vós: não tendes senão
que vos apropriardes delas. Será a própria Eucaristia que vos
esclarecerá sobre o seu sentido. É quando se vive dela que se compreende
que ela é a Vida. Onde, pois, quereis aprender a conhecer a Deus senão
lá, onde ele se pôs inteiramente?
Onde quereis aprender a amá-lo senão lá, onde pôs todo o seu amor?
Presença preciosa, certamente, mas sobretudo presença necessária.
Ide, pois, à Eucaristia com a fome que é preciso ter quando se quer
responder às exigências da vida. Ter fome da Eucaristia é ter fome de
Deus. E em troca dessa sua misericordiosa disposição de habitar entre
nós, Cristo não pede senão uma coisa: que nos aproximemos dele a fim de
nos podermos conformar sempre mais a ele e prosseguir a sua obra. Quanto
mais nos aplicarmos nisso, mais será necessário irmos a ele.
É ao seu contato que obteremos a força de fazer o que sem ele não se pode fazer.
Quando contemplamos esse mistério da presença de Cristo no meio de
nós, quando nos inclinamos sobre esse abismo de misericórdia como nos
inclinamos sobre uma caixa, vemos resplandecer um diamante. Mas, para
que o vejamos assim, cumpre colocarmo-nos na luz da fé; senão seríamos
como uma criança brincando com diamantes sem conhecer-lhes o valor,
pensando serem pedaços de vidro: se perdesse alguns, isso não teria
quase nenhuma importância para ela. Da mesma maneira, como é preciso um
raio de sol para que o diamante mostre todo o seu resplendor, é preciso
um raio do Espírito Santo para evidenciar a beleza do tesouro contido
nesse sacrário que é a Eucaristia. Como, então, essa presença nos
aparece grande, e como se mostra magnífica! Quanto mais ela for vista
nessa luz, mais sereis levados a admirá-la e mais ireis a ela com as
disposições que lhe permitirão realizar seu trabalho em vós.
Retirado do livro “ O Mistério da nossa conformidade a Cristo”
Por Professor Felipe Aquino
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